domingo, 15 de janeiro de 2012

I ATO

Vivia por ai com sua vida desregrada, era displicente com os sentimentos e compromissos. Ria do tempo e das futilidades necessarias, ria dos trabalhadores.
Cantava falsas melodias e tocava mal tocado com acordes em desarmonia seu banjo endiabrado. Bebia agua ardente e não comprava seus cigarros. Se embriagava de ilusão e blasfemava a filosofia, saia pelas ruas em busca de uma vítima.
Quando a encontrava era sedutora, dizia palavras convenientes, falava ser obediente e levava a vítima para o caixão.
Lá transavam vilmente como os sórdidos pagãos. Iludia deus e o mundo, depois cuspia indiferente. Era ela a paixão.
Quando se aprumava, levava a vítima a perdição. Não aceitava horas marcadas, nem responsabilidades inadequadas e com ira se revoltava. Mas na hora do juízo, a razão sempre vencia e chamava o amor pra terminar o serviço. O amor por sua vez, com uma faca afiada, e como um criminoso sem pudor dilacerava sua alma sem nenhuma gratidão. Mataram a paixão.
Novamente ela se ia, com tortura morreria e enterrada foi em vão.


II ATO

Ele chega de mancinho, promete fundos e mundos. Cozinha e lava roupa e se a vítima quisesse até um filho lhe daria. Era pura hipocresia de um farsante sentimento. Respeitava seus defeitos, a princípio, mas era exigente. Fez o demente acreditar que aquilo era vida, deu início da partida que o levaria ao abismo.
Não transavam loucamente, mas era muito obediente e carinho lhe pedia. Olhos nos olhos o sonho continuava com uma vida já esperada sem loucuras e com pudor. Assim se fazia o amor. Como um falso santo enxugava o seu pranto e continuava seu labor.
Sem que a vítima percebesse foi se envolvendo nessa trama, logo começava o drama dessa vida de ardor.
Cobrava sutilmente, enquanto dizia que era feliz. Proibia com leveza tornando-se o dona da matriz.
Mas eis que a loucura se aproxima, diz palavras que o anima, e entra de vez na emboscada, como a louca quiz.
Rodeado por irrealidades, morre envenenado o amor atormentado por que agora era infeliz.

III ATO

Não se sabe de onde veio, mas vive de alucinações, toma conta da vítima que está presa em grelhões.
Leva a vítima ao desatino, faz da tortura seu destino e corrompe suas emoções.
É obcessiva, demente, inventa e mente e diz que é a realidade. Diz que vai pôr fim a sua vida se a vítima der partida e sair de vez dessa cidade. Fala em mudança e dá para a vítima a esperança de que tudo vai ser como era antes. Não dá nem meio dia, recomeça doentia a dizer que tem amantes.
A vítima não se agüenta põe fim a sua tormenta e deixa um bilhete ressonante :
"Não sou forte, sou um fraco e com a morte dou um jeito na minha vida sufocante".
A loucura se desespera e sai correndo pela rua pra mudar de atmosfera. Engole seu choro e logo esquece do ocorrido, olha de longe e avista outro amor dolorido.
Vai mais uma vez ao seu encontro, faz do amor um criminoso e recomeça em outro ponto.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

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O campo das discussões diárias, foi invadido por um tempestuoso mas não menos importante assunto , que confesso que me deixa um tanto quanto irritadiça, mas enfim,como ele está por todos os lugares clamando pelo meu desdém resolvi tirar o gosto ruim da boca e elevar algum pensamento sobre o assunto. O feminismo sim me desagrada, principalmente por eu ser mulher. Uma mulher que tem o poder, que usufrui em causa de paridade com os homens e não como mera vitimização na luta dos gêneros.

Numa perspectiva de mulher de meados do século XIX e XX, a luta não tinha um tom sexista, por que naquela época, os homens não viviam em tão boas condições de saúde ,ou com direitos trabalhistas plenos que fizessem das mulheres seres estéricos de raiva e inveja. Era uma questão de luta por direitos humanos que vinham de ambas as partes.Depois vieram as lutas políticas, e as mulheres começaram a entrar em cena, justamente por que conseguiram a mais importante conquista: de ter voz, poder se expressar, poder dizer ao mundo que pensava.
Mas não submetendo essas poucas linhas com um contexto histórico, por que esse não é a causa do ranso que sinto , e da minha antipatia ao movimento, mas o caminho que está tomando essa filosofia, essa luta que conseguiu dar as mulheres poderes inimagináveis, é um caminho de volta que torna as mulheres sexistas, preconceituosas, e moralizadas.

Essa moral de que o meu corpo é tão meu e eu preciso reafirmar tanto isso que se alguém tocar sem querer, pode até virar lei para evitar esbarrões. O movimento feminista hoje, ao invés de se libertar e mostrar quão poderosas somos, tende a se fechar numa redoma de leis, morais e gêrenos.O discurso é falho, pois não existe igualdade onde há categorias, não existe liberdade sexual onde houver moral, e no mais a violência não será extinguida sem que antes se extinga os meios de coerção. A submissão ainda esta na cabeça das mulheres, e isso se torna veneno do oprimido para se transformar no futuro opressor.